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23.6.06

Sou uma privilegiada. Acordo e dou pelos pássaros a chilrear, se for vento ouço-o a acariciar as árvores, abro a janela e vejo a natureza. Saio lá pra fora e acalma-me olhar os coelhos esfomeados a roer as couves, abro a porta do compartimento e contento-me a observar os pintos a correrem sequiosos de liberdade.



Sou uma privilegiada. Olho pela janela e vejo as flores abanando nas ondas da brisa, vou lá fora e observo como têm crescido os vegetais. Ouço o cão que me chama, e olho para aquele que tenho ali ao lado que sorri todos os dias para mim.

21.6.06

Neste preciso momento estou a ler o primeiro blog que resolvi criar. Há anos que não escrevo nele. Bem, depois criei outro, no qual também não escrevo há muitos meses.
Mas hoje resolvi ver se ainda existia e ler as coisas interessantes e as sem interesse algum, que lá escrevi. Já nem sabia o endereço.
Há alguma actualidade em alguns dos posts. Este está a dias de fazer 2 anos (como o tempo passa!). Data de 26-06-2004 - em pleno EURO 2004 portanto:


"O futebol é que não posso perder...nenhum jogo.Aquele Portugal-Inglaterra foi cardíaco....só o penalty do Postiga e o riso do Deco pra desanuviar o aperto...felizmente acabamos por conseguir seguir em frente.
O que não ando a perceber, é o meu estado em relação a isto. Quer dizer...há 8 e há 4 anos atrás, andava eu a viver os Euros de maneira fanática, a vibrar com cada feito da selecção, com um sentimento patriótico incrível...e agora...agora não sinto tanto. É o país todo embandeirado, tudo a festejar cada vitória como se fosse a vitória na final e eu...simplesmente a observar e a achar demasiado.
Para quem em 96 queria ir a Inglaterra ver ao vivo o Portugal-Croácia...para quem em 2000 vivia euforicamente os maravillhosos 3-2 à Inglaterra, os notáveis 3-0 à Alemanha...e o grande aperto no coração e sentimento de injustiça daquele 2-1 de penalty frente à França que não nos deixou ir à final...
Agora simplesmente é diferente. Sinto um certo desinteresse...
Será da idade?
Será do stress com os exames? Será que os meus sentimentos estão finalmente a alargar-se para outros campos?
Será que 96 e 2000 eram os primeiros mais altos momentos da selecção a que tinha sido possível eu assistir...uma coisa de novo, Portugal nas grandes competições depois de falharmos o Mundial de 94...e agora já estou habituada?
Será que é por não acreditar? Será que é por ter visto só jogos de preparação mal jogados, jogadores estrangeiros naturalizados na selecção, um seleccionador de outra nacionalidade, do mais cegueta que há, que entra no Euro a jogar com uma equipa a qual nunca tinha conseguido que funcionasse e que no segundo jogo teve que mudar 4 jogadores e praticamente toda a defesa? Será por ver as grandes estrelas da selecção a criticarem colegas? Será que Mourinho tem alguma coisa a ver com esta diferença?
Será que me sinto do contra com todo este fanatismo à volta de selecção agora, enquanto em 2000 chegamos tão longe como desta vez (até agora), a jogar melhor, e o país não estava tão doente...ou será que não me recordo?Não me parece...
Será que me causa repulsa e revolta ver este exagero de bandeiras, as conversas de grupo de gente que nunca quis saber nem nada percebe de futebol, e se junta agora a esta euforia? Será que todo este patriotismo hipócrita me leva a ficar de fora? Será por toda esta gente sorridente e tão faladora mas que nem o hino sabe cantar? Será pelos tantos que compraram a bandeira portuguesa este ano, para mostrá-la a não sei quem pendurada do lado de fora da casa, apesar de não saberem bem pra quê? Será que é por eu até começar a sentir que desrespeitam a bandeira, com esta falta de comedidade? Será que estou maluca por não ter tirado as 2 bandeiras que tenho para fora do armário, e vestir a camisola da selecção que também continua no armário? Estou mesmo estranha desta vez...Será apenas porque o F.C. Porto me habituou mal?
:)
"


Post do dia 30-06-2004:

"Acho que é do treinador."

"Apenas por hoje, não terei medo - não terei medo principalmente de ser feliz, de gozar o que é belo, de amar, nem de pensar se aqueles que eu amo me amam."

In «Como evitar preocupações e começar a viver» by Dale Carnegie

17.6.06

Li hoje algo muito interessante num blog, e que vai de facto de encontro à realidade das vidas.
Trata-se de uma resposta do Dalai Lama à pergunta acerca do que mais o impressiona na humanidade. A sua resposta:

"São os homens - Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver o presente nem o futuro, e vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido!"

Em http://jogodepalavra.blogspot.com/

Devíamos parar mais vezes para sentir. Devíamos mudar aquilo que nos causa um sofrimento evitável. É que ás vezes a vida que levamos é irracional.
Esta sociedade está alarmantemente materialista. O importante é ter um bom emprego, ganhar o mais dinheiro possível, comprar em lojas de marca, satisfazer caros desejos, ter uma casa vistosa com jardim requintado. E se parássemos e nos deitassemos na relva do jardim a desfrutar da beleza da natureza que Deus nos deu? E se nos sentassemos no jardim e percebessemos como é tão mais importante passar mais tempo com a família do que com o trabalho?
Temos jardim. Porquê? Para os outros verem como é lindo e grande o que temos, ou para desfrutarmos dele? Quantas vezes passamos tempo no nosso jardim, quanto tempo dedicamos ao nosso jardim? Nem temos tempo não é? Que vida...
Vivemos como se não tivessemos jardim.

15.6.06

Esta rapariga da aldeia gosta de várias coisas...gosta de contemplar a natureza, gosta de desporto, alguma música, de chocolate,de animais, gosta de sentir o amor de e a Jesus, enfim...das árvores e desta chuva que cai em pleno mês de Junho, e que é tão benvinda.


Realmente não percebo porque as pessoas dizem que o tempo está bom apenas quando está sol e calor. Num período de seca, como se pode dizer que as boas notícias são que é dia de sol e não de chuva? Cada ano futuro será mais lógico considerar tempo bom aquele em que chove, e mau aquele em que só há sol e calor.
Essa é de facto uma das coisas com que antipatizo no que diz respeito às gentes da cidade. Dentro dos seus escritórios asfixiados de ar condicionado, dentro dos seus apartamentos de onde só têm vista para as ruas onde não é cómodo utilizar guarda-chuva, não se apercebem da verdadeira necessidade da chuva. Pensam em passar férias deitados ao sol, e em mais nada. Mas há de facto hortaliças, frutas, cereais, animais a alimentar com ração que não se compra no supermercado...há tudo isso lá fora desse aglomerado. E tudo isso lhe vem parar à mesa. E tudo isso necessita de água, de chuva. A terra precisa. Muito. E é horrível ver os rios secos.
Gostava que o país fosse mais verde. Como as montanhas da região do Tirol na Áustria. Como os prados da Suíça e da Alemanha.

Gosto da chuva. É certo que ela atrapalha quando se precisa de sair de casa, de conduzir, de realizar certos trabalhos. Mas gosto de a contemplar de dentro das janelas. De ouvir o seu barulho enquanto permaneço na cama. De observar como as plantas cresceram depois da chuva ter vindo. Do sol que aparece serenamente a seguir.
Tenho boas recordações de jogar futebol à chuva. E mais... bem acompanhadinha consigo imaginar um momento muito mais aconchegante (ok, "romântico":P ) dentro de quatro paredes numa casinha com vista para o verde e chuva fora da janela, do que a queimar a pele por aí numa praia cheia de confusão.
Visto assim, acho que acabei de descrever umas férias de sonho ou uma lua de mel. Bem, estou longe desses momentos, mas nessa altura gostava que a chuva parasse um bocadinho...afinal também haveria coisas lá fora bem dignas de serem visitadas sob um solinho sorridente.


"Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.

Ambos existem; cada um como é." Alberto Caeiro

13.6.06

Esta rapariga da aldeia tem, desde Agosto do passado ano de 2005, de olhar para o monte ali em frente, onde antes as árvores não a deixavam aperceber-se da inclinação do terreno, e ver agora apenas pedregulhos nus e arbustos negros...aqueles, poucos, mais delgados que ninguém se deu ao trabalho de deitar abaixo.
Sim, só agora dá para conhecer os contornos do monte ali hoje vazio, e perceber o trajecto descendente do fogo naquele fim de tarde, que num instante estava no cimo e no outro, qual dor no coração, vinha por ali abaixo com uma rapidez impensável, invadir e deixar as populações em desespero. Foi angustiante aquele fim de tarde e noite.

Estávamos num baptizado. Alguém telefonou para alguém, dizendo que havia fogo lá no monte. O monte é grande, provavelmente não seria ali perto das casas, estaria longe.Mas...a festa já foi festejada, vamos embora, e vamos ver onde anda ele, e ver que não haja perigo. Pelo caminho fomos avistando a enorme nuvem de fumo. E os poucos quilómetros pareciam que nunca mais acabavam. Vinha a tremer só de ver a monstruosidade daquele filme de fumo. E parecia que nunca mais chegávamos, entre um trânsito de domingo. Chegámos. Guardei o carro. Fitei os acontecimentos: as chamas começavam a avistar-se no cimo do monte. Qual inocência, nada de muito aflitivo passou pela cabeça, "não deve chegar cá abaixo...está lá em cima, os bombeiros devem tratar dele antes que desça". De qualquer modo queria acompanhar a evolução daquilo. Fui dentro de casa procurar um rádio de mão para trazer cá para fora. Assim podia ouvir o relato do jogo de futebol enquanto olhava para o monte. Procurei-o, procurei as pilhas...sintonizei-o e voltei lá fora. Olhei.
"Meu Deus..."
MÃÃEE!?!
Não queria acreditar... devo ter levado uns segundos a assimilar o terror da situação que os meus olhos viam. As chamas pareciam a metros de distância das casas. A chama tímida que há pouco se conseguia avistar apenas lá no cimo, tinha debandado por ali abaixo, tinha-se transformado em labaredas que devoravam todo o monte e que agora estavam ali colocando as habitações num perigo incrível. Só aquela visão de ver tudo a arder até ali abaixo, coisa que se tinha modificado em poucos minutos, foi de choque.
Tirei o carro da garagem numa pressa que não me lembro de ter tido noutra situação. E conduzi aquelas centenas de metros em direcção ao fogo, a uma velocidade que nunca tinha alcançado naquela estrada. Parei o carro. Uma pessoa chorava, e facilmente me contagiou, mas sem tempo de continuar, corri para dentro do monte, para a zona de vigia. Como os outros, preparei-me com os ramos verdes que vi pelo chão. Nessa altura ainda só ali estavam os habitantes da casa que ficava mesmo ali mais perto do perigo que ainda estava a vir. Eu nem tinha trocado de roupa, estava como tinha ido para o baptizado. Ficámos ali horas. A olhar e a ouvir as chamas a poucas dezenas de metros de distância, sempre à espera que elas se passassem para o lado de cá (havia um pequeno vale com um caminho e terreno plantado com milho, que separava o monte da parte que estava a arder, da parte que a qualquer momento se temia que começasse também). O vento viajava forte e deixava os corações ainda mais preocupados. Olhava-se para o céu e via-se sobre nós a passar restos de vegetação a arder. Pontinhos vermelhos a voar na noite escura e que iam cair sabe-se lá onde. Molhámos a vegetação ali por perto até onde pudemos, e assim ficámos à espera do que acontecesse.

Conforme os minutos passavam, apareciam mais e mais pessoas. De perto e de longe. Carros da GNR, mas nada de bombeiros. Homens com tractores e cisternas, que enchiam onde pudessem. Na estrada municipal e pelos caminhos à volta, os carros tinham enconstado, a presenciar o espectáculo. Chegaram a dificultar a passagem de quem trabalhava. Aqui e ali começavam a ouvir-se boatos de que alguma casa tinha sido atingida, de que alguma pessoa se havia magoado seriamente. Felizmente não passaram de boatos.
Os bombeiros vieram àquela parte do monte já o fogo tinha ardido quanto quis. Tinham estado a tentar salvar habitações no lugar mais à frente. Eram poucos. Eram de longe. Vinham de outro incêndio. Cansados e a tentar minorar as tragédias. Revolta-nos ver-nos ali impotentes, desprotegidos, sem bombeiros a ajudar-nos. Revolta-nos vê-los chegar quando já tudo poderia ter acontecido. Mas enche-nos de compaixão sabermos que nem são da nossa localidade, pensarmos no que foi o dia deles. Havia fogos por todos os lados nesse fim de semana e por isso nem havia bombeiros disponíveis.

Nessa noite o céu estava vermelho, um vermelho assustador. Agora que já tinha passado à frente dos nossos olhos, ali estávamos parados, a olhar e a pensar se ainda estaria a arder mais à frente, onde é que teria parado. Nessa noite aquele espaço do monte por arder foi calcado por muitas pessoas, por muitos tractores, por homens que andavam de um lado para o outro na ânsia de impedir a propagação do fogo. Nunca tinha por cá presenciado um sentido de comunidade vivido como nessa noite. Nunca aquele monte teve tantos espectadores. Nunca ninguém tinha temido tanto pelas suas casas.

O vento que chegou a colocar-nos em muito perigo, mudou as suas condições e ajudou definitivamente a que as chamas não passassem para o nosso lado. Ficámos a presenciar o diminuir das chamas até perceber que o perigo se tinha reduzido significativamente. Mas o sono dessa noite foi tudo menos descansado. Não podia ser diferente depois das emoções que marcaram aquele final de dia.


No dia seguinte souberam-se mais pormenores, foi ver-se de perto o que o fogo fez e até onde tinha chegado. Soube-se que algumas casas mais à frente estiveram realmente muito perto de serem afectadas pelas chamas, e que se viveram momentos de desespero por lá. A vegetação ardeu até às paredes das habitações. Lá os bombeiros tiveram que desencadear esforços grandes para impedir tragédias maiores. As pessoas choram ao contar o que se passou no dia anterior.
Soube-se que os restos de vegetação a arder transportados a toda a força pelo vento, tinham iniciado noutros locais, chamas que foram prontamente impedidas de crescer. Eu própria observei fragmentos de casca de pinheiro queimada pelo chão junto de casa e noutros pontos.

Fui ver de perto. Percorrer o caminho ao lado do qual o fogo andou, o caminho onde os bombeiros se meteram e que impediu maior propagação.
O cheiro era intenso. Cheiro a cinzas. A tudo ardido.
A cor era só uma: preto. O chão, as árvores, tudo.
O cheiro e a cor com que ficou a minha alma ao ver aquilo.
Aqui e ali havia ainda fumo a sair do chão, havia ainda chamas na raíz e no que restava de um tronco. Haviam vestígios da acção dos tractores e dos carros dos bombeiros. Não havia ponta de verde até perder de vista.

Um ano passado, a desolação é grande. Já não há verde nem tanto preto. Agora resta o cinzento das pedras e dos arbustos mortos de pé e o amarelo da vegetação rasteira. Nem um pinheiro. Só se vê o chão nu onde antes não se via o chão. Só os 2 pinheiros mansos perto das casas continuam lá. Felizmente o fogo não os devorou, embora tivesse devorado tudo acima deles.

12.6.06

Uma pessoa da aldeia passa inevitavelmente por coisas que uma pessoa da cidade nunca passará ou só pontualmente passará. Umas boas, outras más.
E se tem a sorte de viver com coisas boas, também tem de passar pelo sofrimento ao vê-las desaparecer.

Esta rapariga da aldeia todos os dias tem agora de ver o monte cinzento e deserto ali em frente. Mesmo que não queira. O monte que até há poucos meses era todo verde, é agora completamente diferente. Apenas pedregulhos nus, como nunca tinha sido visto.


Algo parecido

11.6.06

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.


Alberto Caeiro
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